Apesar de não ser reconhecida pelo ministério do trabalho e ainda ter padrões de sub-profissão, ser DJ hoje em dia é uma atividade cobiçada (e tentada) por muitos. Nesses tempos de música acessível dentro de casa, pela internet, proliferam mais do que nunca os que se auto-intitulam DJs. Talvez pelo status que o DJ tenha hoje, talvez pelo hype da mídia com a profissão. Ou talvez pela música simplesmente, por ser lúdica e prazerosa a atividade de colocar música para outras pessoas.
Há muita controvérsia sobre o assunto, mas tomo a liberdade discorrer sobre ele, já que sobrevivi apenas como DJ por muitos anos (hoje posso considerar que tenho uma atividade paralela, a produção musical, que faço ha 7 anos e só agora rende algum lucro)
Nos anos
80 o DJ era o cara que conseguia os discos importados, graças a um bom muambeiro ou um parente que trabalhasse viajando. Eram respeitados os DJs com a maior coleção de vinis (Importados, já que era uma cultura importada e a praticamente a totalidade de DJs tocava musicas internacionais).
Aí vieram os anos
90, a popularização do CD, e a música começou a ser copiada com fidelidade absoluta. Mas para ser DJ era necessário ter fornecedores de música, contatos no meio, etc. Era necessário um grande investimento de tempo e dinheiro.
Hoje, em plenos anos zero, a música vive em um plano totalmente diferente. O Mp3 se consolidou, os cd-players profissionais evoluiram para leitores de mp3 (se pode fazer uma festa inteira apenas com dois cd-r). Com 200 reais se pode comprar um gravador de dvd que usando uma mídia de 3 reais, comporta mais de 70 horas de som . Em poucos meses, pelos mesmos 3 reais as pessoas estarão comprando o DVD-R DL, comportando assombrosos 150 horas de áudio de alta qualidade - o que seria equivalente a quase uma semana ininterrupta demúsicas sem repetição. Hoje os Softwares evoluiram e são acessíveis. A música ganhou um status não-físico: de apenas um arquivo podem ser feitas centenas de cópias em questão de horas.Hoje em dia qualquer um que saiba operar um
cd-player, um
mixer (basicamente um aparelho que controla o volume dos dois players) e tenha conexão com a net e conhecimentos básicos de software pode passar uma semana baixando "all time hits" e posar de DJ no fim de semana. Há muita desinformação, muita quantidade e no final das contas, pouca qualidade. Infelizmente se vê muitas vezes o marketing influenciando brutalmente no diferencial de um DJ, em detrimento da qualidade do trabalho.
Um parêntese: Hoje tambem é cada vez mais comum encontrar cursos que prometem transformar alguem em um DJ, como se gosto pela música e conhecimento musical abrangente (dois elementos essenciais para ser um DJ) fosse algo que se ganhasse instantaneamente. Qualquer curso para DJs não "torna alguem DJ", e sim ensina a manusear a musica com as ferramentas do DJ, e deve haver honestidade total a respeito de informar isso ao aluno.A busca pela dificil resposta de "o que é um bom DJ" passa por vários caminhos. Começando pelos sinuosos conceitos de *o que é* um DJ:
- Um locutor (e programador) de FM é um DJ.- Uma pessoa que aluga som e iluminação para casamentos e toca o mesmo repertório toda festa (hits consagrados) é um DJ.- Uma pessoa com uma concepção artística conceitual e fechada (só toca um estilo específico) é um DJ.- Uma pessoa que só toca músicas próprias é um DJ.Todos acima podem ser ótimos ou péssimos profissionais. Mas o grande público ainda tá longe de identificar um tipo do outro, o que gera muita confusão.
De qualquer forma,
é injusto colocar no mesmo balaio uma pessoa que coloca uma lista de hits pra tocar num mp3-player com outra que se dedica a mostrar um trabalho original, com estilo e feeling, escolhe o repertório de acordo com o momento e público, é embasado por um conhecimento musical abrangente, mostra coerência no repertório como um todo, tem carisma e energia e ainda mostra uma tecnica que ajuda tudo a fluir melhor.Meu próximo passo foi perguntar pra algumas pessoas envolvidas com a
"cultura DJ" o que é um bom DJ pra elas. Aqui estão alguns depoimentos:
"É o que faz as pessoas vibrarem" - Luis Garayalde, Wagon cookin' project"É o que passeia pela música, usa elas pra contar uma estória" - PedroDuarte, Designer"É a mescla de conhecimento, integridade, dedicação e técnica" - BrunoGuerra, DJ"é apresentar músicas para as pessoas. O DJ é umtraficante do bem, um traficante de música que cruzaas barreiras sociais. - DJ Dolores, produtor musical"Um artista que não apenas toca músicas, cria conceitos!" - Eduardo deMendonça, estudante"Preza pela qualidade do trabalho e busca a versatilidade dentro do seupróprio conceito" - Hard Mix!, DJ de House"Utiliza de todas as ferramentas sonoras disponíveis para fazer as pessoasdançarem" - Luck Veloso, DJ de Techno e Produtor Cultural"é um cara que gosta de música como forma de arte e de se expressar, que se diverte atrás dos decks e tambem na pista, é quem sabe comandar e interagir com um público" - Dudu P, Publicitário e Webmaster"Deve ter um ótimo repertório, boa performance e/ou boa técnica" - Daniela Labra - curadora independente em Arte Contemporanea"É aquele que consegue lançar novas tendências musicais e lançamentos misturados aos hits da pista" - Jimmy Luv, rapper e produtormusicalComo se vê, são diferentes visões, cada um foca em uma habilidade, e a partir delas não se chega a um conceito fechado.
Soma se a isso o fato que ser um "bom DJ" em primeiro plano é tocar um estilo/repertório que agrade, e isso, como o gosto musical,
é extremamente relativo e pessoal.
Existem diversos públicos e diversos tipos de DJs; não se deve generalizar, e sim informar. E, claro, quem preza a música tambem deve colaborar para que os mais habilidosos e talentosos se consolidem, prestigiando-os, para que a música sempre vença o marketing sem conteúdo.
Afinal, o que é um bom DJ? Eu posso falar por mim, a minha visão simplificada depois de toda essa procura e troca, e depois de todos esses anos de profissão:
Não é só o que faz todos dançarem e vibrarem. Antes disso, é aquele que ama a música que ele passa para as pessoas, não importa qual. Se ele é apropriado ou não, cada pessoa vai decidir segundo seus parâmetros de exigência e entretenimento.
E viva a diversidade. ;)